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A penitenciária tem 1.475 presos, mas capacidade para 750 detentos
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Pelo menos 31 presos foram encontrados mortos na manhã desta sexta-feira (6) na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, na zona rural de Boa Vista. De acordo com o governo de Roraima, que administra a unidade, o caso foi registrado por volta das 2h30 (4h30 no horário de Brasília). A penitenciária é a maior do Estado.
Inicialmente, o número de mortos anunciado era de 33. No final da tarde, porém, a Secretaria de Estado de Justiça e Cidadania de Roraima informou que o número foi revisto após o início do processo de perícia e identificação dos corpos no IML.
Conforme a assessoria de imprensa governo, que negou ter havido uma rebelião ou mesmo fuga, os próprios detentos teriam provocado as mortes durante uma briga de facções. Ainda segundo a assessoria, o caso envolveu presos ligados ao Comando Vermelho e ao PCC (Primeiro Comando da Capital), facção mais numerosa na penitenciária, após alguns deles quebrarem cadeados e invadirem a ala onde ficavam homens de menor periculosidade. A maior parte das vítimas foi decapitada.
Segundo a Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania (Sejuc) de Roraima, havia 1.475 presos na unidade no momento dos crimes de hoje --a capacidade é para 750 detentos. Do total, mais da metade (898) é de presos provisórios, ou seja, à espera de julgamento. Outros 458 detentos estavam no regime fechado, e cem, no semiaberto.
Em fotos que teriam sido tiradas por presos e enviadas a parentes, através de redes sociais, é possível ver uma série de mutilações em corpos dos detentos mortos. Em pelo menos dois casos, os corações das vítimas foram arrancados e colocados ao lado do corpo para serem fotografados.
Outras imagens retratam cadáveres amontoados em um corredor da unidade tomado pelo sangue.
Mortes se somam ao massacre de Manaus
Segundo o secretário de Justiça e Cidadania de Roraima, Uziel de Castro Júnior, as informações preliminares são as de que membros do PCC "possivelmente tenham cometido esses crimes".
"Não existem facções de outras organizações criminosas no local [além do PCC]", disse Castro Júnio à rádio BandNews. Ele declarou que as autoridades ainda não sabem o que motivou a série de assassinatos, mas alegou que equipes verificariam a situação in loco.
Às 9h30, equipes do Bope (Batalhão de Operações Especiais) e do GIT (Grupo de Intervenção Tática) estavam dentro do presídio para "realocação dos internos e conferindo a real situação", segundo a assessoria da Sejuc. Ainda segundo a pasta, a situação já estava "sob controle".
A Secretaria Estadual de Segurança informou que representantes do governo de Roraima se reuniriam de manhã para definir que ações seriam adotadas. A governadora Suely Campos (PP), conforme a assessoria da pasta, teria conversado por telefone sobre a situação com o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes. Não foram divulgados detalhes dessa conversa, nem quando o IML (Instituto Médico Legal) concluiria a retirada de corpos do presídio.
Secretário-adjunto nega que havia presos do CV em unidade
Ao UOL, hoje, o secretário-adjunto de Justiça e Cidadania de Roraima, major Francisco Castro, negou que ainda houvesse presos do Comando Vermelho na penitenciária. "Há dois meses foi feita a divisão, e os do CV foram para Cadeia Pública, onde estão cerca de 300 presos", disse, citando que o PCC é a facção que tem o maior comando de presos no Estado e ficaram a "preferência" da colônia.
Ainda segundo ele, às 9h15 (11h15 de Brasília) equipes do Instituto de Criminalística estavam entrando no local para fazer uma contagem e confirmação do número de presos mortos e iniciar o processo de identificação.
Por outro lado, o presidente da seccional de Roraima da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Rodolpho César de Morais, classificou as mortes de presos como uma
"tragédia anunciada" e afirmou que apenas medidas paliativas teriam sido tomadas desde a rebelião que deixou dez mortos no fim do ano passado, como a transferência de líderes do CV, Cadeia Pública. "Mas os soldados do grupo ficaram lá", observou.
Terceira maior matança em presídios
A matança de hoje em Roraima é a terceira maior em número de vítimas em presídios brasileiros. A pior delas foi em 1992, quando uma ação policial terminou com 111 presos mortos no caso que ficou internacionalmente conhecido como massacre do Carandiru, em São Paulo. Veja:
111 mortos em São Paulo - Carandiru - 1992
56 mortos em Manaus - Compaj - 2017
31 mortos em Boa Vista - Penitenciária Agrícola de Monte Cristo - 2017
31 mortos em Benfica (RJ) - Casa de Custódia de Benfica - 2004
31 mortos em São Paulo - Penitenciária do Estado - 1987
27 mortos em Porto Velho - Urso Branco - 2002
18 mortos em São Luís - Pedrinhas - 2010
Colaboraram Carlos Madeiro, de Maceió, e Luan Santos, de Boa Vista (Via Uol)
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